Cinto muito

O fim do mundo está próximo. Perdão, Maias, eu duvidei. Estamos vivendo um tempo de incertezas e melancolia, traduzido por pessoas que estão mais preocupadas em coreografar o Gangnam Style com passos que lembram um avestruz com lordose, do que propriamente prestar a atenção aos detalhes cabalísticos que prenunciam o apocalíptico fim dos tempos.
Corinthians campeão da Libertadores. Felipe Melo defendendo um pênalti. Faustão magro. Lula sem barba. Tiririca na Comissão de Educação. Hebe partiu. É, amigos, chegou a hora de juntar os trapinhos e dançar o Samba do Crioulo Doido, que a coisa tá feia.
Porém, tudo o que foi escrito até agora seriam apenas falácias das redes sociais, não fossem outros aspectos ainda mais acentuados que indicam que, em termos de existência humana, a porquinha realmente torceu o rabo. Basta prestar a atenção às dicas valiosas espalhadas mundo a fora para concluirmos que, realmente, na prática a teoria é outra.
Certa vez, ainda descrente de um possível apocalipse, escrevi a respeito da inutilidade das polainas, crônica esta que permeou debates inclusive nas bibliotecas de respeitadas entidades de ensino gaúchas. Após aquele desabafo, fui iludido com a falsa sensação de que a contravenção do vestuário terminaria por ali, mas fui ludibriado pela insensatez daqueles que regem a moda e gostam de adicionar um tom jocoso ao gosto alheio.
Foi no trem que tudo aconteceu. Aliás, é lá que tudo acontece. Só neste tipo de transporte coletivo você consegue, na mesma semana, encontrar Pepeu Gomes, Sílvio Luiz, Inspetor Bugiganga, ver um gordo ganhando um faniquito e ser chutado por uma criança ao passo em que se desloca rumo à luz do saber. Como bônus, ainda pode descer numa estação errada por estar pensando na morte da bezerra no exato momento em que o sinal do fechar das portas ecoa. Sim, tudo isso ocorreu comigo, mas não foi o bastante. Precisei ser vitimado por uma cena tétrica para me convencer de que algo está, de fato, fora dos conformes.
Eu estava sentado no mesmo lugar costumeiro, sempre no canto de um banco junto à porta. Isso garante uma saída rápida e indolor, quase sempre livre de acotovelamentos e algum desavisado cheiro de sovaco mal lavado. O trem, no entanto, lota a partir de um certo ponto. E, quando você menos espera, há uma pessoa roçando o umbigo em seu nariz.
Não tenho muita sorte com esse tipo de cena. Quase sempre sou forçado a examinar um pâncreas, ou premiado com alguma titia esfregando sua borda de catupiry na minha face, o que ultimamente tem me compelido a pedir tele-entregas de pizza sem borda recheada. Só piora quando a barriga em questão pertence a algum dadivoso degustador diário de cerveja, onde a protuberância abdominal vem com trilha sonora. Deus tenha piedade da privada aonde culmina tamanho revertério. Hiroshima e Nagasaki devem ser café pequeno perto deste potencial entrevero nuclear.
Ontem foi um pouco diferente. Parou à minha frente uma jovem senhora, magra, sem borda e com um sistema digestivo bastante silencioso. No entanto, entrei em choque ao prestar um pouco mais a atenção às suas vestes: havia um cinto acima do umbigo. O acessório era fininho, que nem pra manear uma ovelha serviria. Vinha por cima da camisa, evidenciando a sua inutilidade, uma vez que a calça jeans não continha algo para segurá-la.
Minhas convicções entraram em colapso. À minha frente, estava deturpado o real motivo da existência de um cinto. Ele, que outrora possuíra a função de evitar a queda livre das pantalonas, ou até mesmo tomara o cunho educacional no século XX, quando os pais mais rígidos forjavam as boas maneiras dos filhos manejando a fivela com destreza e lascando uma cintada ou outra nas pernas dos moleques traquinas a fim de enquadrá-los nos rigores da sociedade. Que nada, a moda agora é retomar o cordão umbilical e enrolá-lo acima da camisa. Um verdadeiro acinte à moral e aos bons costumes, sacramentando o sucesso da lei da palmada, que certamente também inclui corretivos à base de cinto.
Tive vontade de urrar, paralisar o metrô com os punhos e simular um ataque epilético, mas tudo o que consegui foi emitir um grunhido acompanhado de um pequeno movimento contorcionista no corpo, o que certamente deu a impressão à guria que estava sentada ao meu lado de que eu passava maus bocados em virtude d'alguma prisão de ventre. Sua expressão de horror ao vislumbrar um possível peido meu naquele trem lotado corroborou com a minha tese.
Precisei conter meus impulsos e aceitar com sofreguidão aquela verdade madrasta. As mulheres estão todas usando cintas finas na barriga e acham isso o máximo. É a moda, amigos, é o que rege o planeta atualmente rumo ao seu fim. E pensar que tudo começou com a invenção da pochete. Não posso terminar este texto sem mencionar meu asco às pochetes, ao seu inventor e aos donos de mercados de praia que permitem que sessentões adentrem seus estabelecimentos trajando apenas uma sunga e, à frente dela, ostentem uma odiosa bolsinha que carrega pilas e documentos.
As pochetes corromperam a real função dos cintos silenciosamente. Estes, por sua vez, sofreram uma grave crise de identidade sucumbiram a este afunilamento inevitável que os deslocaram para o ventre materno, reatando a simbiose outrora tão combatida por Freud. Será que ele explica tudo isso?
Alheios a isso, convertam-se! O fim está próximo, pelo menos o dos cintos. Sinto muito.

3 comentários:

  1. E o debate sobre os cintos por cima das camisas começou aqui na biblioteca... hehehehe

    Sobre a pochete, não concordo. Todo o motociclista sabe a verdadeira importância da pochete, que é mais segura do que os bolsos das calças. Já perdi chave de casa quando ela estava no bolso da calça. Nunca perdi uma chave quando ela estava guardada na pochete. =D

    Abraço!

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  2. Concordo com o Cláudio, a pochete tem sim o seu valor, está fora de moda????pifff, to me cagando pra moda, o importante é que não deixa cair os documentos, sejam eles quais forem...
    Esses dias estava eu assistindo ao Globo de Ouro, no canal Viva, e sobe no palco a grande JOANA, cantando um sucesso dos anos 80/90 e a calça sem cinto, mas batendo no pescoço. São os tempos meu caro!!

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  3. Antônio e seus textos revolucionários e indignados.
    Deixe as polainas e as pochetes Ton! Há gosto pra tudo neste mundo, infelizmente.

    Mas poxa vida, não afirme que o mundo vai acabar. Há tanta coisa pra se fazer. Uso até este cinto no umbigo, à lá Suellen, se for o preço .hahahaha

    Abraço.

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