Polainas

"Ora (direis) usar polainas! Certo
Perdeste o senso!"

Estas seriam as palavras de Olavo Bilac, caso vivesse nos tempos atuais, onde, macacos me mordam, presencio a ressurreição das polainas. Desconheço, naturalmente, os gostos que cultivava nosso prócer da literatura brasileira acerca de vestimentas, mas precisei recorrer a um poeta renomado para dar início ao meu protesto.
Fico intrigado com o que rege a moda. Não que eu siga tendências e afins, nada disso. Até que sou bem modesto ao me vestir. Acontece que polaina é um troço broxante, é sinônimo de bisavó. É algo que eu recordo vagamente lá pelos idos dos tenros anos oitenta, tempo do Pogobol, do Lango-Lango, do Chocolate Surpresa, dos Kichutes e das Balas Xaxá.
Ocorre que, ao contrário dessa lista de maravilhas citadas, todas com sucesso garantido caso fossem relançadas, as polainas não tem serventia alguma. Aquecer tornozelos? Valha-me São José, quem se importa com eles? Fixação por tornozelo quem tem é zagueiro do Brasil de Farroupilha, do Guarany de Bagé, ou qualquer outro clube da Segundona Gaúcha. Nunca vi, nestes quase vinte e cinco anos de traquinagens, alguém que afirmasse categoricamente:

- Bah, que frio que me deu no tornozelo...

Polaina, portanto, é um acidente de percurso. Algum resto de lã que sobrou para qualquer vovó tricoteira - aliás, lembro de vó Dilma e vó Loreni tricotando polainas - e, num ato de extrema infelicidade, saiu aquele cone de lã disforme. Não deu no braço, não deu no pescoço e, com dó de jogar fora, resolveram atracar nas canelas, acima dos sapatos. Fica parecendo aquelas proteções de cavalos de hipismo, um terror!
Fiquei feliz quando as polainas foram extintas. A juventude foi encurtando as roupas, encurtando, encurtando, enfim, não havia mais motivos para se cobrir tornozelos quando se estava praticamente mostrando todo o resto. Defenestraram as polainas.
Contudo, nessa terra gaudéria e polar, há uma época do ano em que experimentamos a doce sensação que vive uma ovelha o ano todo, pois não é possível viver no Rio Grande do Sul sem ter alguma reservinha de lã no guarda-roupa. Com isso, o que acontece? Continua sobrando algum resquício dela para as vovós tricoteiras.
Cansadas de inventar mantas, cachecóis e luvinhas, eis que alguém teve a brilhante idéia de ressuscitar as benditas polainas, para meu desespero. É bisonho! Mesmo porque, quando uma dessas tendências old retornam, tem a força de uma manada de gnus em filme do Rei Leão. É toda a mulherada usando polaina a torto e a direito! Com scarpin, bota, sapato e até tênis! Juro, vi ontem, vindo para o trabalho, uma guria de tênis preto e polaina roxa. Quase bati o carro.
Polaina é um troço do mal, é um acinte à beleza feminina. Vovós, não tricotem polainas! Homens, uni-vos contra elas! Apesar que, do jeito que a coisa anda, é bem provável que certos cidadãos apareçam por aí desfilando de polainas, nesses tempos de sexualidade nada ortodoxa, onde o documento já não define mais quem é o quê.
Prestem atenção na minha profecia: as polainas farão parte de 80% dos presentes de amigo-secreto no fim do ano! Representarão 70% dos presentes daquela sua tia que te dá cueca e meia há quinze anos no aniversário, Natal e até na Páscoa. Não se deixem levar pelo volume do embrulho. Lá dentro pode estar um sórdido, ignóbil e tenebroso par delas, as famigeradas polainas.

Juro, vou dormir pensando nisso. Polainas, argh!

6 comentários:

  1. "- Bah, que frio que me deu no tornozelo...", hahaha.

    Já usei polaina quando tinha uns 7 anos e fazia aula de dança. Pensa, aquele collant feioso, sainha de ballet, sapatilha de dança e... polainas. Visão do inferno.
    Nunca mais.
    Sabe, eu ia falar que essa moda ainda não tinha chegado a SC, mas lembrei que hoje, chegando na universidade, vi uma guria de short jeans, meia calça preta, sapatilha e... polainas. Visualizou? Short com meia calça pra mim já é feio, com aquelas polainas então, não teve como não olhar e pensar "PQP, que mau gosto!".

    Beijo

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  2. Bá, Guri, que coisa louca:
    Estava eu bem lépida e faceira olhando um blog qualquer, que tem o teu link, eu muito me diverti simplesmente pelo título, e como boa blogueira curiosa vim ler-te.
    Qual não foi minha surpresa de tratar-se exatamente de um gaúcho, tal qual eu sou, o que ultimamente, te digo, é difícil de achar por essas bandas cibernéticas...
    Enfim, li teu post e achei incrível!
    Esses dias, tava penando em comprar uma polaina pra mim, mas depois de tantos argumentos, só posso dizer: Realmente, polaina serve pra quê?! O.o
    ahusauhsa
    Desculpa, me chegar assim e já sair botando o verbo...
    Então, Prazer: Thasci Caiél
    Sinta-se a vontade a vistar CaNtO da Thasci(http://cantodathasci.blogspot.com)

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  3. Cara, descobrir a pouco tempo que as polainas não fazem parte das calças! Sério, nunca me tinha passado pela cabeça que aquele pedaço de lã sobressalente em cima dos pés fosse apartado do resto.

    Contra elas não tenho grandes coisas. O nome me passa algo de velho, mas estou disposto a aguentar isso no inverno.

    Ah, mas tampa o tornozelo no verão para ver se eu não abro uma associação cujo objetivo é o retorno às vestes femininas sumárias e impudicas.

    Modas tem limite, "vamo se respeitá, né".

    Abração!

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  4. Antes de tudo, parabéns pelo post, ri muito! rs

    Sou bailarina e vim aqui defender as coitadas das polainas! Elas têm uma função sim! Elas aquecem a musculatura das panturrilhas - ou mesmo da perna toda, pois existem polainas com esse tamanho - para evitar que os esforços da dança tragam problemas pros tendões. Não só no ballet, mas também em outros tipos de danças e esportes. Em alguns casos, ela tem a mesma função que aquelas meias altas - e vamos combinar, conseguem ser mais bonitas...

    Logicamente, não é necessário que pessoas usem-nas no seu dia a dia, mas o povo gosta de inventar moda, não é verdade? De qualquer forma, prometo usá-las somente quando for necessário - e alertar as coleguinhas a fazer o mesmo! rs

    Beijos.

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  6. Olá,

    Li e senti necessidade de expor sobre a necessidade das polainas, pelo menos na atividade da musculação.
    Elas não são somente um acessório.
    As academias não são referência de higiene e as polainas ajudam e muito na hora de utilizar as benditas e suadas caneleiras.
    Malho há muitos anos e não existe nada mais nojento do que pegar uma de alguém que acabou de suar muito nelas. São ótimas para evitar "a lama" do seu suor com o suor das outras pessoas com poeira e sujeiras naturais do ambiente. Muitos reclamam que contraem micoses nas academias, isto é uma realidade.
    Outra utilidade seria para proteger de possíveis hematomas que alguns aparelhos fazem na região da canela se não a utilizarmos... calças de ginástica são muito finas e as meias ajudam muito a amenizar o contato com estes aparelhos.

    Como usuária de meiões e polainas, deixo aqui meu comentário e um SALVE à todas elas.
    Não gostava também, achava feio demais, mas, um tempo sem usá-las a gente reconhece que são extremamente indispensáveis.

    Beijos à todos.

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